20 de fevereiro de 2022

Paulo mostra toco em que conseguiu subir e escapar da enxurrada — Foto: Stephanie Rodrigues/g1

O jornalista Paulo Guimarães, de 51 anos, revisitou, no sábado (19), um local que provavelmente nunca vai esquecer. O lugar fica em frente à Catedral São Pedro de Alcântara, marco turístico em Petrópolis na Região Serrana, cidade atingida por uma tempestade no último dia 15. Até a noite de sábado, mais de 150 pessoas morreram por conta da tragédia e outras 165 continuavam desaparecidas.

Foi em frente à catedral que Paulo encontrou um toco de árvore, onde conseguiu subir e escapar da enxurrada que destruiu parcialmente o município. Depois de perder o carro e subir no tronco cortado, o jornalista prometeu ao filho por mensagem que sairia vivo do temporal.

Ao g1, Paulo contou que, na terça, saiu por volta das 17h30 para o dentista, na Rua 16 de Março, coração comercial da cidade. Passando pela catedral na Rua Ipiranga embaixo de chuva, ele notou os primeiros bolsões d’água.
Na Rua Imperatriz, o jornalista reparou que não conseguiria mais seguir em frente por conta do alagamento. Com medo de arriscar o carro, ele decidiu parar. Ao lado dele, um motoqueiro — que acabou fazendo companhia a ele nas horas de terror — fez o mesmo.
A ideia da dupla era esperar a chuva dar uma trégua.

“Quando a água começou a subir, já vinham carros boiando numa correnteza muito forte. Aí, eu comecei a ficar assustado. Até que a mureta rompeu, aí a água veio muito forte, batendo ao lado da porta do motorista. A água começou a entrar muito rápido dentro do meu carro, mesmo fechado. Era tão surreal que eu custei a reagir, a me tocar que eu tinha que abandonar o carro”, disse.

O jornalista tentou abrir a porta do motorista, só que a correnteza o impediu. O jeito foi sair pela porta do carona, já com a água na barriga. Mesmo com a correria, conseguiu salvar a mochila e o celular.
“Não dava pra ver mais onde que estava o rio, não dava pra ver onde estava nada, estava tudo coberto já, foi muito rápido”, contou.
Sem saber a quais riscos estava suscetível, Paulo subiu na mureta que ainda permanecia de pé.
“O motoqueiro subiu em um toco, e eu estava em cima daquela mureta. Só que a água cobriu a mureta completamente. Você não sabia o que era rio mais, era tudo água. Aí, ele disse: sai dessa mureta, por que vai romper também”, lembrou.

Com a água no peito, o jornalista andou até o outro homem. Jogou a mochila para ele e conseguiu subir no toco.

“Ficamos os dois em pé por três horas, vendo o carro afundar. (…) A água chegou num nível, em um determinado momento, que não tinha onde apoiar. Eu e o cara em pé por três horas, um do lado do outro, e a água subindo. Uma tremedeira.”

Manteve a calma

Paulo contou que permaneceu calmo. Pegou o celular na jaqueta, tentou falar com o filho ao telefone, mas não conseguiu. Mandou então mensagem para ele e mais duas pessoas: a irmã e um amigo.
“Eu estava tranquilo, alguma coisa me dizia que eu ia escapar”, declarou.

Após três horas, a água começou a baixar. Foi quando os dois homens desceram do toco, com a água ainda na canela. Cruzaram a rua, então, até a cátedra.

“Eu resumiria essa experiência com uma frase de Santo Agostinho. Ele falava: ‘A gente não tem o controle de nada, mas tem que viver e agir como se tivesse certeza de tudo'”, citou o homem.

 

Postado por Blog Cardoso Silva
Categorias: Brasil
FAO
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